"A Solidão"
"Colo meus olhos no difuso aglomerado das três cores primárias do monitor, perco-me olhando para o mais recôndito ícone, busco sem fronteiras mentalizar-me que um deles poderá talvez entregar-me a sensação que tanto prezo do “passar tempo de maneira desmesurada”, em fracções de segundo rendo-me à evidencia, procuro algo que me conforte, eis que começa a viagem, arrasto-me para fora da cadeira, dou por mim no ponto incipiente do corredor, descontraio os músculos do pescoço, a cabeça inclina-se lentamente, e mais uma vez colo os olhos no chão, sinto a sua frieza na planta pés, ouço o ranger da madeira a cada passo meu, como por puro instinto ponho um pé em frente ao outro, a imperfeita horizontalidade do braço coloca o dedo na parede branca e acompanha todas as suas curvas sinuosas até a sala. O raio de luz proveniente da janela ilumina o meu rosto enrugado pela ofuscante claridade, de olhos semicerrados dirijo-me ao comando da televisão, o silêncio é rasgado pelo barulho dos electrões que se passeiam freneticamente pelo cátodo, eis que as colunas juntam as primeiras notas, a sala de facto encontra-se agora completa, a minha cabeça? Ainda não. Aumento o volume, corro com velocidade relâmpago os 43 canais, acto tão inconsciente este que ajuda-me apenas a manter algo, que por muito físico que seja, ocupado. Chega? Ainda não. Cozinha penso eu… há sempre alguma coisa para fazer numa cozinha. Eis-me então a enveredar por esse caminho, fruta de aspecto dúbio abandonada dentro de uma tina contígua ao fogão. Dando jus à minha insanidade, vejo o sorriso endiabrado da tina, travo uma batalha contra um pelotão bem armado de mosquitos que não cessam de me combater pela sua usurpada fonte de subsistência, devido à minha intervenção a tina jaz no fundo de um saco preto de lixo. E os mosquitos? Os mosquitos não… Parece que ficaram enfurecidos, tendo-me apenas a mim para descarregar a sua cólera, corro para fechar as portas com a finalidade de criar uma descansada divisória entre o pelotão e eu. Esgotadas as ideias e fés, encaminho-me para o quarto mais uma vez… Uma aclamada janela de Messenger teima em abrir… mais uma ideia discorreu, musica, prontamente ponho a playlist a tocar e atiro corpo como que desprovido de vida para cima de um qualquer edredão de penas. Silencio? Essa é já meta ultrapassada, com a televisão, a musica, a correria dos carros na rua, a vizinha do lado a abanar a roupa molhada perto do estendal, as luzes do quarto, a luz natural do sol que entra pela varanda e os filamentos luminescentes do relógio digital nem os meus pensamentos consigo ouvir, nada parece acalmar a minha angústia. A minha humilde conclusão é que, neste estado, nada podemos fazer para melhorar, para acordar, para encontrar coragem que nos falta neste dia tão inusitado para enfrentar o mundo. Pessoalmente, duas coisas entregam-me de mão beijada a um estado idêntico ou semelhante a este… Um são os exames, o outro não digo…"
Texto elaborado e gentilmente cedido por:
LV-426
retirado do blog: http://www.zupaxis.blogspot.com/
Tkx LV [ ]
enjoy